30 junho 2007

Poucas palavras


"Vou dizer o que me incomoda.
Você é um garoto meio introvertido, ou digamos, calado.
Ser calado não é defeito, é qualidade.
Quando eu era criança, não conseguia falar e fiquei gago.
Mas você é só um pouco reservado.
E a vida lhe deu uma alma muito rica.
Assim, quando se sente solitário,
pode entrar no jardim dos pensamentos
e conversar com sua imaginação.
Sei porque li suas poesias no primeiro grau.
Você tem coração de poeta,
Mas isso nem sempre o agrada.
É legal ter um tesouro, mas ele não pode se tornar um peso,
Quando se torna, vejo-o preso nos pensamentos.
Isso me dá medo e quero libertar você.
E me pergunto qual é o medo ou o ódio que o obriga a fechar-se."

Arnaud Desplechin, in Reis e Rainha, pela voz de Ismaël para Elias, um garoto de 10 anos.



28 junho 2007

Carne

Nossa carne...
Não sabemos donde viemos,
Mas sabemos para onde vamos.

Fragâncias do Olhar


19 junho 2007

Direto do velho caderno 2

A verdade é uma boa retórica
set./1998

Direto do velho caderno

Saio comprar um Machado de Assis
Meu primeiro livro literário!
No caminho, vou pensando...
Volto para casa com um dicionário.

(acho que esse foi o primeiro. Set. 1996)

Metalíngua

Palavra curta
Arrebenta
Minha poesia não se encomenda.

Palavra certa
Aberta
Tampouco se interpreta.

02 junho 2007

Duas é bom!


Sou um cinéfilo. Amador, muito amador, pouco ou quase nada li sobre cinema, sequer leio as sinopses, escolho os filmes principalmente pelas salas em que eles são exibidos, aliás, nos dois primeiros anos que morei em Sampa, assisti a todos os filmes das cinco salas do Espaço Unibanco de Cinema, para não perder nenhum, cheguei a assistir seis filmes em dois dias consecutivos, três para cada! Estive em diversas pré-estréias da “retomada do cinema nacional”, mesmo para as quais eu não era convidado, misturava-me entre os urbanóides e lá estava eu, aceitando uma taça de vinho, canapés... Desse tempo, marcaram-me os filmes iranianos.

Passaram-se quase dez anos e já não moro em Sampa, mas continuo seguro para afirmar: sou cinéfilo.

Digo isso porque tocou-me com grande surpresa o cinema nacional. Distraidamente aluguei “Cinema, aspirinas e urubus” e assim que acabei de vê-lo, maravilhado, não me contive: coloquei-me a assistir novamente desde o início. A segunda vez, já mais experiente e nem um pouco cansado, trouxe-me satisfação igual ou maior.

Como se não bastasse, na semana seguinte aluguei, já não tão distraído, São Paulo SA, de LS Person. No exato instante que acabei de ver o filme, a Tatiane, que muito me conhece, chegou em casa, e, vendo-me extasiado no sofá, também quis assistir ao filme. Não teve jeito, vi duas vezes seguidas, sem pestanejar.

Agradeço profundamente pelo incomensurável prazer que tive com esses filmes nacionais, escolado que estava com o cinema iraniano, sentir a mesma pulsação imiscuída na minha cultura-mãe não teve preço.