15 dezembro 2010

Para EN

mau humor
mau amor
mais rumores
mais amores

15 novembro 2010

Aniversário

anos completos
anos perfeitos
e o mesmo nó no peito

07 outubro 2010

Maria Satanás

Satã não satisfaz

27 julho 2010

perdoe-me o premiado poeta
eu uso o bloco de notas
larguei papel e caneta
microsoft word é só prosa

26 julho 2010

não perscrutam a verdade
pois seriam cientistas
os poetas buscam
as mentiras escondidas

12 julho 2010

domeneck
seu contexto
sua reflexão sobre o contexto
compuseram o pretexto
para descontextualizar
meu subtexto

01 julho 2010

gosto do sol
que faz a sombra

24 maio 2010

Entrevista

Por que o senhor começou a escrever poesia?
Justamente porque eu não gosto de dar explicações. A poesia tem essa característica. Não precisa ser explicada. Não é uma explicação. É bem possível encontrar explicações na minha poesia, uma empatia, um entrosamento com o poema que te dá a sensação do entendimento pleno, mas essa comunicação se dá em outro plano, por outro canal que não a chatice da explicação racional.

É verdade que o senhor também fotografa e que sonha em dirigir um filme?
Os índios não gostavam de ser fotografados, acreditavam que a câmera lhes roubava a alma. Em parte isso é verdade.  A tecnologia nos permite retratar com uma precisão elevadíssima a aparência, mas deixa a imagem esvaziada, somente um bom diretor de cinema ou um excelente fotógrafo, no seu exercício de arte e cultura, é capaz de devolver o espírito à frieza dos registros fotográficos. Isso é fascinante.

no cio
silenciosa

08 maio 2010

tudo ou nada
tanto faz
a revolução mais radical
de 360 graus
nos traz ao mesmo lugar

02 abril 2010

sentimento
que não respira
pira

31 março 2010

sentimento
que não volta
revolta

19 março 2010

faça amor
não faça
filhos

27 fevereiro 2010

leveduras

uma coisa é tudo
uma coisa é nada
além da coisa é tudonada

quem vê tudo, não lê nada
quem tudo lê, nada vê
leve tudonada
para transcender

21 fevereiro 2010

janela aberta
porta fechada
corpo encerra
fissura da alma

30 janeiro 2010

o homem completo

só se vê de esgueio
homem complexo
nunca está inteiro

15 janeiro 2010

Estive sábado em São Luiz do Paraitinga. Pude sentir de perto a dor que tentamos retratar com palavras, fotos e vídeos. Posso garantir, estar lá presente é bem diferente de ver pela TV. Entendi o que é uma cidade arrasada, o que significa o choroso "perdi tudo", que pela TV já me parecia até cômico. É um cenário de guerra, o exército está por lá, pois houve tentativas de saques pela noite. Sensação próxima do caos, o ponto zero, o estado pré-urbano. Não são as águas românticas de um rio que transbordou e se imiscuiu na cidade, numa conurbação. Ou talvez também seja isso, mas o que restou foi um cheiro fétido, uma lama infectada, merda dissolvida pelas paredes, animais mortos. Há entulho e lama em cada canto, mais do que você pode imaginar. Como limpar o conduíte do interruptor de luz? Pelas ruas da cidade, hoje, as pessoas passam com a expressão de quem não vai chorar mais. Há um estranho silêncio que só se interrompe pelo som das máquinas, numa faxina bruta que antecede a reconstrução da cidade, o que todos por lá têm a esperança e determinação de fazê-lo, mesmo que o rio ainda esteja cheio.


Deixei a cidade pensando que os objetos que nos cercam são muito mais que objetos, são um pouco de nós. Perder todos de uma só vez é como se nos arrancassem, de supetão, as vinte unhas do corpo. Depois da dor, ficam as marcas e começa a lenta recuperação que poderá nos trazer unhas mais belas.