30 janeiro 2010

o homem completo

só se vê de esgueio
homem complexo
nunca está inteiro

15 janeiro 2010

Estive sábado em São Luiz do Paraitinga. Pude sentir de perto a dor que tentamos retratar com palavras, fotos e vídeos. Posso garantir, estar lá presente é bem diferente de ver pela TV. Entendi o que é uma cidade arrasada, o que significa o choroso "perdi tudo", que pela TV já me parecia até cômico. É um cenário de guerra, o exército está por lá, pois houve tentativas de saques pela noite. Sensação próxima do caos, o ponto zero, o estado pré-urbano. Não são as águas românticas de um rio que transbordou e se imiscuiu na cidade, numa conurbação. Ou talvez também seja isso, mas o que restou foi um cheiro fétido, uma lama infectada, merda dissolvida pelas paredes, animais mortos. Há entulho e lama em cada canto, mais do que você pode imaginar. Como limpar o conduíte do interruptor de luz? Pelas ruas da cidade, hoje, as pessoas passam com a expressão de quem não vai chorar mais. Há um estranho silêncio que só se interrompe pelo som das máquinas, numa faxina bruta que antecede a reconstrução da cidade, o que todos por lá têm a esperança e determinação de fazê-lo, mesmo que o rio ainda esteja cheio.


Deixei a cidade pensando que os objetos que nos cercam são muito mais que objetos, são um pouco de nós. Perder todos de uma só vez é como se nos arrancassem, de supetão, as vinte unhas do corpo. Depois da dor, ficam as marcas e começa a lenta recuperação que poderá nos trazer unhas mais belas.